8 de janeiro de 2018

Vergonha! Médicos são flagrados em esquema de 'farra do ponto' em hospital público do interior de SP

Profissionais de medicina do Conjunto Hospitalar de Sorocaba (CHS), unidade responsável por atender 48 cidades da região, têm recebido salário mesmo sem atender pacientes. Eles participam do esquema conhecido como "farra do ponto", em que registram a entrada, deixam o hospital e só voltam no fim do expediente, para marcar a saída. O esquema foi denunciado pelo Fantástico neste domingo (7).

A reportagem da TV TEM e do G1 flagrou dois médicos e um cirurgião dentista que fazem da prática uma rotina. Eles chegam, batem o ponto e saem do hospital. O destino varia: eles vão para casa, à padaria, à academia, fazem compras e até atendem em clínica particular. Enquanto isso, pacientes esperam atendimento pelo profissional que sequer está na unidade hospitalar, apesar de ganhar para isso.

Esta não é a primeira vez que a "farra do ponto" é denunciada no Fantástico. Em 2011 foi descoberto um esquema em que médicos se ausentavam durante o horário de plantão. Para coibir a prática, o Hospital Regional instalou equipamentos de ponto eletrônico, mas a fraude persiste, como mostra a reportagem.

Flagrantes

No dia 20 de novembro, às 7h05, o médico anestesista Francisco Manoel dos Santos Mendes chega ao CHS, bate o ponto e vai até uma lanchonete na mesma rua. No estabelecimento, ele conversa com um amigo, compra um lanche e volta para o hospital.

De acordo com o registro, próximo das 10h o médico sai novamente, só que de carro, ainda no horário de plantão. Em outro flagrante, em 7 de dezembro, Mendes chega às 7h10 e registra a digital. Menos de três horas depois vai até uma academia. As imagens mostram ele em uma esteira.

Em seguida, às 12h14, o anestesista volta ao hospital. No fim do dia, com outra roupa, ele espera o horário para bater o ponto mesmo sem ter cumprido todo o plantão de 12 horas. O Portal da Transparência informa que o salário do médico é de R$ 20.927,29 por mês referentes a uma jornada de 20 horas semanais.

Procurado por telefone, o médico disse à reportagem que “não tinha nada para falar”.

'Fico a distância'

Elias Agostinho Neto, cirurgião dentista, foi flagrado realizando uma cirurgia em um hospital particular na cidade às 15h de 24 de novembro, dia e horário em que deveria estar de plantão no CHS. Ele é flagrado quando sai do centro cirúrgico para receber da enfermeira uma caixa de bombons enviado pela reportagem.

No mesmo dia que Elias deveria estar no CHS, a paciente Lúcia Elena Zorzetto diz que caiu em casa e precisava ser atendida pelo especialista.

“Eles [funcionários] não falaram o porquê [da ausência]. Deram soro, pingou devagarinho, mas não sei quem mandou eu tomar soro, não veio médico me ver”, lembra a aposentada.

Segundo a escala daquele dia, Elias tinha que trabalhar das 7h até as 19h. No entanto, só retornou ao hospital para marcar o registro de saída, mesmo sem ter cumprido a jornada de trabalho.

Os flagrantes da "farra do ponto" se repetem. Em 29 de novembro o cirurgião registra o ponto e segue para o centro de Sorocaba. No dia 1º de dezembro ele chega, bate o ponto e para em uma padaria antes de ir para o consultório particular na região central, às 9h30. De acordo com o Portal da Transparência, ele recebe R$ 4.471,85 para cumprir a jornada de 20 horas semanais. (Continue lendo)