Os pais recebem a notícia de que o filho tem Síndrome de Down. Não é um fato a ser escondido, mas ao contarmos as pessoas, elas não sabem o que dizer e acham que precisam consolar os pais. Na verdade, de forma errônea, os parentes e amigos acham que precisam consolar os pais, como se sobre eles houvesse se abatido uma tragédia. Ter um filho com Síndrome de Down não é uma tragédia e não é algo do qual se precisa ser consolado. Entretanto, as pessoas, imbuídas de muita boa vontade, tendem a tentar nos consolar e soltam frases como a seguinte: somente pais especiais recebem crianças especiais.
Somos pais de uma criança especial e não nos sentimos especiais, não somos diferentes dos outros pais. A frase é uma tentativa – repetimos, imbuída de boa vontade – de trazer algum consolo. Para ser pai ou mãe de uma criança não é preciso nada de especial, basta ter a vontade de amar os filhos e de lhes propiciar o que de melhor estiver ao seu alcance.
Frases como a que utilizamos como exemplo no artigo são frutos de uma visão distorcida da realidade, fruto de uma época em que as perspectivas das pessoas com Síndrome de Down eram muito limitadas. Eles, principalmente por causa dos problemas cardíacos, costumavam falecer muito cedo, boa parte ainda nos primeiros meses de vida. Hoje, as deficiências cardíacas são cirurgicamente corrigidas ainda no ventre materno, se for preciso. A expectativa de vida, dos que sobreviviam aos primeiros meses era em torno de 18 anos. Hoje, a expectativa é a mesma da população em geral.
Hoje, definitivamente, e cada vez mais, as condições de vida de uma pessoa com Síndrome de Down são equivalentes a de qualquer outra pessoa. Assim, sem nenhuma dúvida e com experiência própria, os pais de crianças com Síndrome de Down não precisam ser consolados. São pais normais, de filhos normais, ainda que com necessidades especiais. (Saber Melhor)