“Não foi um estupro.” Direta e firme em sua resposta, a estudante de 19 anos afirmou em entrevista ao G1 nesta sexta-feira (4) que não foi violentada por um grupo de universitários de São Paulo. A Polícia Civil apurava a possibilidade de estupro após fotos compartilhadas via WhatsApp (aplicativo de troca de mensagens entre celulares que usa conexão via internet) serem divulgadas na internet. As imagens mostram a garota nua ao lado de cinco homens, alguns deles alunos da Universidade Mackenzie, na região central da capital.
Será instaurado agora um inquérito policial para apurar a responsabilidade criminal pela divulgação sem autorização das imagens. “Vamos abrir inquérito para investigar o crime contra honra e dignidade”, disse o delegado José Gonzaga Marques, titular do 4º Distrito Policial, Consolação, que investiga o caso. “Ela [estudante] vai me mandar um e-mail e eu vou abrir o boletim de ocorrência”.
Segundo o delegado, a garota, que está fora do Brasil, lhe disse por telefone que tinha um relacionamento com um dos rapazes que aparece nas fotos e contou ter o desejo de ter relação grupal. A jovem permitiu as fotos, mas não a divulgação.
Também por telefone, ela falou à equipe de reportagem que concorda com a investigação para saber se foi vítima de crime contra a honra e para descobrir quem publicou as fotos. Mas negou o suposto abuso. “Não aconteceu estupro. Foi consentido sim”, disse a estudante, que não divulgou seu nome.
“Eu gostaria que fosse investigado sim quem foi que vazou a foto, entendeu? Porque me constrangeu”, disse ela sobre a investigação policial. “Então ficou manchado sim”.
A garota declarou que não se arrependeu de ter feito sexo grupal, mas sim de ter aceitado tirar as fotos. “O que mais importa para mim é a minha família”, justificou a jovem, que ainda não falou com seus familiares sobre o que ocorreu.
Repercussão de pesquisa sobre estupro
A estudante relatou ao G1 que o sexo grupal aconteceu em janeiro. Mas somente na quinta-feira (3) as fotos foram parar na internet.
"A minha opinião pessoal é que [foi] devido a essa campanha do Ipea [Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada], não é? 'Não merecer ser estuprada’ [uma pesquisa] que é totalmente manipulação política, para desviar a atenção do foco de outras coisas que estão acontecendo no país. Acho que as pessoas estão presumindo que qualquer coisa é estupro, entendeu?", disse a jovem.
A garota contou ainda ter sido procurada por uma liga feminista preocupada com as cenas de sexo e a possibilidade de abuso. "Descobriram meu e-mail pessoal, presumiram já um monte de coisa, falaram que iam expulsar os meninos da faculdade, e eu não sabia o que estava acontecendo", afirmou.
"Falei com elas que foi extremamente machista elas presumirem que aquele tipo de foto consideram estupro. Normalmente o feminismo consiste em que a mulher possa fazer o que ela quer", disse.
Investigação policial
O 4º Distrito Policial, na Consolação, começou a investigação preliminar na quinta-feira (3) após investigadores serem avisados pela imprensa sobre trocas de mensagens pelo WhatsApp na qual circularam fotografias de estudantes nus do Mackenzie e atos que poderiam configurar o estupro.
As imagens trocadas pelo aplicativo mostram o rosto de cinco homens e uma mulher, de costas, numa cama, aparentemente durante e após a relação sexual. Nas conversas trocadas pelo celular, ela combina o encontro com um grupo de rapazes.
De acordo com os investigadores, o advogado dos investigados esteve na delegacia e disse que o caso ocorreu há dois meses. Ainda segundo o defensor, a jovem estaria agora em intercâmbio na Croácia.
Policiais também estiveram no Mackenzie e localizaram os cinco rapazes, que, em conversa informal com os investigadores, se defenderam da suspeita de estupro, negaram ter violentado a mulher e confirmaram que o sexo foi consensual. Eles, no entanto, deverão comparecer na tarde desta sexta-feira (4) à delegacia para prestarem esclarecimentos.
Mackenzie
Procurada para comentar o assunto, a assessoria de imprensa do Mackenzie informou que repudia “toda e qualquer violência contra a figura humana”.
"Diante da gravidade do que foi veiculado na Internet, esperamos das autoridades, em todos os níveis, as medidas cabíveis. Estaremos prontos a colaborar na apuração do fato", informou a universidade por meio de nota. "Repudiamos, por fundamentos de respeito religioso, legal e moral, toda e qualquer violência contra a figura humana".
Frente feminista
Após a divulgação da entrevista no G1 com a estudante, a Frente Perspectiva (coletivo de estudantes do Mackenzie que combate às opressões no espaço universitário, e que tem o feminismo como uma bandeiras de luta) informou que foi procurada por "alguns estudantes" que os acusaram "de algo que não fizeram."
Por meio de nota, os membros da frente disseram que nunca procuraram "a menina envolvida no episódio e em nenhum momento" acusaram "os cinco rapazes de estupro."
"Ficamos sabendo do caso por meio de denúncia via inbox na nossa página do Facebook. Como acontece em qualquer situação, o grupo debateu qual seria o nosso posicionamento quando começaram os boatos de estupro na universidade. Ficou decidido que deveríamos esperar por mais informações antes de qualquer coisa e foi o que fizemos", continua a nota.
"A Frente Perspectiva defende a liberdade sexual feminina, e não compactua com a divulgação de fotos sem o consentimento de todos os participantes. Inclusive debatemos frequentemente a questão da sexualidade feminina e suas amarras, e jamais acusaríamos alguém de um crime sem provas ou denúncias das pessoas envolvidas", finaliza.(texto G1, fotos internet)